27.10.08

Eco Poema

1

Os Rios da minha terra,
Já não levam sonho à flor das águas,
Ficam presos nas barragens...
Do Guadiana ao Sabor, não há Salvador?

Exóticos peixes vorazes
Espalham terror nos leitos antes suaves,
Grita o muge e o saramugo:
- Ai o peixe-gato, aqui há gato!

- E se nadarmos para outro lado?
Pergunta o barbo júnior esperançado.
Há perca-sol e achigã...Cuidado! Cuidado!

Nem mais um rio Selvagem...
Há que fazer outra barragem?

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2

Submergiram a aldeia da luz,
Preferem as trevas do poder cego,
Dinheiro a rodos e mercenários
Fazem andar os betonários...

Alta tensão anda à solta...
Micro-geração a conta gotas;
Renovável na hora só a clicar,
Um dia inteiro a tentar!

Entra outra estrada na Mata dos Medos,
Fere o velho pinhal e seus segredos
De Sesimbra a Almeirim,
Invadem as matas assim...

Na teia da especulação,
Entram os bancos, pois então...
Na ilusão da habitação
Venha receber de cheque na mão.

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3

E na senda do progresso
Entra muito papel e sigla única:
Para ao PINzinho ter acesso
Muitos milhões dão "utilidade pública".

Isto só visto, contando ninguém diria:
Que dano infame: deixar fechar a Sorefame!
É só favores à "Alta-Europa",
E só interesse na Rodovia!

Agora a pressa é tanta,
Aceleram no asfalto com grande lata
Muito álcool a regar a janta,
Vão-se espetando em sucata.

O que vem de fora é que é bom
E vem de camião na auto-estrada,
Economia a esvair,
dinheiro com pressa a sair...

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4

Nas linhas que eram de ferro,
Acompanhava-se a paisagem
Embalados por montes e cerros
Vinha o sonho e a miragem.

Abríamos a janela em andamento
A sentir o cheiro de cada lugar,
Olhos em lágrimas, cabelos ao vento
Havia saudades no ar...

Agora carruagens climatizadas,
Passam a grande velocidade,
A ver estações fechadas
Foi tudo embora p’rá cidade...

Sobre a linha minha e Tua
Que já nem sabia a idade,
Venha a verdade nua e crua
Haja coragem e frontalidade.

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5

Verdes campos, poucas searas
Mas sendo poucas e já raras
Entra a semente da patente,
Quem se importa com a gente?

Abelhas que se cuidem...
Pólen doce pode ser fatal
Se ao milho o vão buscar,
Esperamos que não vos faça mal...

Ser integral não está na moda,
O que está a dar são os partidos
E nessas mentes fragmentadas
Cultiva-se bola e outras touradas.

Queremos Abril à força mil,
Mas ninguém mexe uma palha,
E nos medos de silêncio vil
Estedem a mão à migalha.

Em versos como os do Aleixo
Este apelo vos deixo:

Ou muito me engano, ou já é tempo
De parar com o lamento,
Haja força e confiança
Reacenda-se a esperança!

(Raquel)

25.10.08

ARTE NOVA A CAIR DE VELHA


ARTE NOVA - um património a preservar

Temos nestas páginas vindo a apontar uma crescente descaracterização da Rua Dr. Luís Ferreira – Rua do Comércio – que se distingue por um conjunto de elementos arquitectónicos estilo Arte Nova, na azulejaria e no ferro forjado, do inicio do século XX (note-se os elementos vegetalistas, linhas ondulantes, volutas, ornamentos florais).
A história da fundação deste núcleo viseense da Associação Olho Vivo passa pelo processo de luta pela preservação dos candeeiros de ferro forjado da Rua Direita, do Largo D. Duarte e outras ruas, assim como dos candeeiros de ferro fundido característicos de estilo Arte Nova da Rua do Comércio, que a Câmara Municipal de Viseu (C.M.V) intentou substituir há oito anos. Depois da nossa denúncia e do abaixo-assinado de comerciantes e moradores que entregámos na C.M.V., esta autarquia teve o topete de por oito anos manter os candeeiros que comprara para substituir os de ferro forjado, encavalitados em cima dos de ferro fundido. Há cerca de cinco meses o executivo municipal, no seu habitual estilo de não dar o braço a torcer, tomou a decisão de “desempatar”, removendo ambos para serem substituídos por uns candeeiros “Estilo Modernaço” – irónico sucedâneo do “Modern Style”: nome por que era conhecido o estilo Arte Nova no principio do século XX.
Um dos edifícios mais significativos da Rua do Comércio, com tantos anos quanto a própria (a caminho do centenário), representativo do estilo Arte Nova, apresenta-se degradado, exposto às intempéries, estando o telhado e as janelas muito danificadas. Quem subir a Rua do Comércio pode verificar o estado de degradação deste belo e imponente prédio gaveto com a Rua Chão do Mestre, mas é da Rua Formosa, junto ao portal do Mercado 2 de Maio, que se tem uma visão mais global dos enormes rombos no telhado que não só já estão a prejudicar o único inquilino que ali resta a morar como ameaçam os comerciantes do rés-do-chão: a Casa Africana e a Casa do Lavrador. Há dois anos um estudo da professora Elsa Ferreira de Figueiredo (Azulejo Arte Nova Em Viseu – Seu Valor Patrimonial) apontava já a necessidade urgente de uma intervenção de restauro. Entretanto a câmara terá contactado com o proprietário e foi realizada uma vistoria por parte dos bombeiros e da protecção civil.
A preservação do património não se compadece com delongas. A Associação OLHO VIVO sugere à CMV a classificação de interesse público ou de interesse municipal do conjunto de todos os edifícios Arte Nova da Rua do Comércio de forma a permitir a elaboração de um Plano de Salvaguarda da Rua do Comércio (à semelhança do que existe para a Ribeira do Porto). Viseu é das cidades que tem menos imóveis classificados. Mesmo muitas igrejas, como a Igreja do Carmo, não estão ainda classificadas.

(no jornal VIA RÁPIDA de 16/10/08)

Contacto:

olhovivo.viseu@gmail.com