18.3.09




MILK, filme de Gus Van Sant, apresenta a figura de Harvey Milk, político e activista pelos direitos dos homosexuais. Leia-se o texto de Miguel Vale de Almeida Um homem "normal" aqui.

17.3.09

MULHERES E DIREITOS HUMANOS



No passado dia 9 de Março, dois elementos do Núcleo de Viseu da Associação OLHO VIVO deslocaram-se a Cabanas de Viriato, ao Centro Social Prof. Elisa Barros Silva, a convite do Curso de Educação e Formação de Adultos – Técnicas de Acção Educativa, para uma conversa sobre Direitos Humanos. Dado que na véspera se tinha comemorado o Dia Internacional da Mulher e a maioria dos presentes (15 formandos e 5 formadores) era composta por mulheres decidimos dar um relevo especial aos direitos humanos desta metade da humanidade, o que suscitou um animado debate com os participantes (ver foto).

Não obstante todos os avanços alcançados no último século, as mulheres continuam a ser discriminadas na sua vida diária. As mulheres gastam mais 19 horas por semana em tarefas domésticas do que os homens, incluindo o grosso das tarefas com crianças e idosos. Apesar de Portugal ser dos países da União Europeia com menor diferença salarial entre homens e mulheres (a diferença, em 2007, era de 8,3%), a verdade é que o número de mulheres em cargos directivos ou no topo das empresas é inferior à média europeia (31,8%).

A violência doméstica contra as mulheres continua a ser a consequência mais dramática da discriminação de género. Apesar de estar a diminuir a violência contra idosos e crianças, têm aumentado as queixas de violência conjugal. Recentemente o Governo aprovou uma proposta de lei que impõe que os crimes de abuso, exploração sexual de crianças e de violência doméstica sejam apagados do registo criminal apenas 20 anos depois da extinção das penas. Também já é possível os agressores serem detidos mesmo sem serem apanhados em flagrante delito, podendo ser controlados à distância pelas forças policiais através da utilização de meios electrónicos (pulseiras).

A UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta ( associação com a qual o Núcleo de Viseu da OLHO VIVO tem colaborado na resolução de alguns casos de violência conjugal) , criou em 2004 o Observatório das Mulheres Assassinadas, que no ano passado registou perto de 50 mulheres assassinadas pelos maridos, companheiros ou namorados, em muitos casos depois de já estarem separadas, ou em vias de separação. A este número impressionante há que somar mais 64 mulheres vítimas de tentativas de homicídio, agressão e violência continuada, mais 18 vítimas associadas (filhos, pais, amigos). De notar que a maioria se situa entre os 24 e os 35 anos, o que significa que as vítimas e os agressores são cada vez mais jovens. O próprio Dia Internacional da Mulher ficou marcado, em Portugal, pelo assassinato de uma mulher de 25 anos, à facada, pelo companheiro, à vista da filha de 10 anos. A 5ª vítima de 2009.

Como vêem não há diferenças abissais entre a situação das mulheres em Portugal ou no Paquistão, por exemplo, onde em 2007, a Comissão de Direitos Humanos do Paquistão registou 33 casos de mulheres queimadas pelos maridos com ácido e 45 com querosene, fora as que se silenciam e escondem com medo das represálias.

Recentemente dois cardeais lançaram avisos às mulheres portuguesas para não casarem com muçulmanos. E D. Saraiva Martins disse que a homossexualidade não é normal. Talvez devessem ouvir melhor os apelos de mudança lançados pelo padre Feytor Pinto que considerou haver “vozes retrógradas na Igreja sobre sexualidade”. Este responsável pela Pastoral da Saúde entende que os pais portugueses, dominados por tabus, é que precisam urgentemente de formação para assumirem a educação sexual dos filhos, em colaboração com a escola. Talvez passe por aqui a solução mais eficaz para acabar de vez com o flagelo da violência doméstica: explicar o direito à igualdade entre homens e mulheres, violentado ao longo da história da humanidade pela transformação da mulher em propriedade privada do homem.

Dizia uma Petição que as mulheres que participaram na Revolução Francesa, enviaram à Assembleia, em 1789: “Vocês destruíram todos os preconceitos do passado, mas permitiram que se mantivesse o mais antigo e mais difundido, aquele que exclui do escritório, de posição e do honra, e sobretudo do direito de se sentar entre vós, metade dos habitantes do reino”.

“O Mundo pula e avança”... devagarinho. Mas tal como nenhum povo poderá ser livre enquanto oprimir outro povo (palavra de ordem da luta contra a guerra colonial), também nenhum homem poderá ser livre enquanto oprimir, explorar (não partilhando as tarefas domésticas, por exemplo) ou simplesmente não reconhecer o direito à igualdade da mulher.

7.3.09

COLÓQUIO SOBRE HISTÓRIA E CULTURA JUDAICA LANÇA DÚVIDAS SOBRE A LOCALIZAÇÃO DA SINAGOGA

Promovido pela Câmara Municipal, o Colóquio sobre História e Cultura Judaica reuniu mais de centena e meia de pessoas (muitas vindas de fora) no Auditório Mirita Casimiro, no passado dia 14.

Segundo Henrique Almeida, coordenador do Colóquio, o presidente da autarquia pediu celeridade no processo de musealização da Sinagoga. Talvez a proximidade das eleições autárquicas não seja alheia a tamanha urgência. Mais avisado seria, porém, começar por fazer um levantamento mais aprofundado da herança cultural judaica, patente, ainda hoje, na arquitectura (janelas altas, em estilo de frestas com um ferro ao meio ao alto, de modo a que entrasse a luz, mas impedisse conversas para a rua); na toponímia; na música (não só nas belíssimas canções e coplas de tradição sefardita, mas também no melodismo floreado das “Aleluias”); e na nossa própria carga genética (um recente estudo científico internacional concluiu que 25% dos portugueses do Norte – e 35% no Sul – têm genes judeus sefarditas, enquanto a ascendência norte-africana é apenas de 10% e 15%, respectivamente). Desafiar os investigadores a aprofundarem os seus estudos e a debaterem as suas ideias antes de avançar a todo o vapor com a compra da casa da antiga Papelaria Dias, onde Isabel Monteiro situou a sinagoga de Viseu, teria sido mais prudente.

A investigadora viseense Isabel Monteiro, na revista Monumentos nº 13 / Setembro de 2000, num artigo sobre “A Judiaria de Viseu”, identifica a Sinagoga com aquela casa quatrocentista, no cruzamento da Rua Direita com a Rua da Árvore, baseada em documentos dos séculos XV que referem a venda e o aluguer de casas “perto da Sinagoga”, ou “na rua que vai para a Sinagoga” e “em 1502, Álvaro Rodrigues, cónego, aluga umas casas na Rua Nova, que foram Judiaria outras que foram Sinagoga”, embora reconheça não ter encontrado, na documentação consultada, notícia dos seus proprietários nos séculos XVII e XVIII.

Maria José Ferro Tavares, professora catedrática em História Medieval, doutorada com a tese “Os Judeus em Portugal no século XV”, tem dedicado boa parte das suas investigações à história dos judeus em Portugal e à Inquisição portuguesa. Sendo, portanto, uma das maiores especialistas na matéria e tendo já feito o levantamento das judiarias existentes em Portugal seria de supor que as dúvidas que manifestou na sua comunicação no Colóquio, relativamente à localização exacta da Sinagoga, merecessem um melhor acolhimento, nomeadamente por parte da comunicação social, que não se lhe referiu. Para esta investigadora a Sinagoga deveria situar-se na Rua Senhora da Boa Morte, numa casa com cinco confrontações, junto a um beco, porque, por norma, ficava no centro da Judiaria e nunca na Rua Direita, onde tradicionalmente moravam as elites, que já estaria fora da Judiaria. Maria José Tavares duvida que a Rua Direita seja a Rua das Tendas, uma vez que há documentos coevos que citam as duas ruas, e chamou ainda a atenção para o facto de a “rua que vai para a Sinagoga” não ser o mesmo que “rua da Sinagoga”. Discordou também com a identificação da Rua da Triparia com a Rua das Ameias (feita por Isabel Monteiro) com o argumento de que, pela própria natureza do comércio de carnes (com escorrências e odores) normalmente ficaria numa rua mais periférica E lançou o desafio: “É necessário fazer prospecções arqueológicas nestes espaços”.

Naturalmente que polémicas como esta, deveriam ser, elas próprias, um desafio para historiadores e arqueólogos e deveriam ser aproveitadas pelo poder autárquico para envolver os cidadãos no estudo e na recuperação da memória colectiva da cidade. Por isso, houve quem achasse de mau gosto a intervenção do vereador da Cultura quando, no final do colóquio, disse: “A festa vai continuar, mesmo que alguns a quisessem estragar. Não nos interessa muito se ali era a Sinagoga ou não; isso é um problema dos historiadores”.

Claro que nos interessa saber se ali era a Sinagoga ou não! Em qualquer dos casos, a casa quatrocentista, talvez a mais antiga da cidade, ficará muito bem como núcleo museológico dedicado à memória judaica.

Para além da polémica, surpreendeu a comunicação de Teresa Cordeiro, Mestre em História Ibero-Americana, com o trabalho “Adonai nos Cárceres da inquisição ou Gente da Nação na Cidade de Viseu”, professora na Escola Secundária Emídio Navarro, pela fluidez coloquial da linguagem, ao abordar o contributo que os cristãos-novos deram à prosperidade de Viseu quinhentista e à decadência que a cidade sofreu no final do século XVI, quando os marranos se viram obrigados a fugir para escapar à perseguição, ao escárnio público, à expropriação de bens, às torturas e as fogueiras do Santo Oficio. Os exemplos que apontou de casos de denúncias de vizinhos e familiares, incluindo pais e filhos, única forma de obter o perdão e a reconciliação, ilustraram de forma expressiva a “realidade recalcada” da Inquisição, de que falava Eduardo Lourenço ao chamar-nos a atenção para o facto de, à semelhança do que aconteceu com a escravatura – “salvas contadas excepções - só ter perturbado as almas delicadas quando acabou”, ficando por “exorcizar o perfume de morte que dois séculos depois, para olfactos sensíveis, ainda flutua na doce paisagem portuguesa”.

Sintomaticamente, um ilustre representante do clero viseenses, presente no colóquio, perguntou qual a percentagem de condenados, numa tentativa de relativizar o terror inquisitorial. Mas a resposta já tinha sido dada por Cecil Roth na sua “História dos Marranos”: “Na Inquisição Portuguesa, o número de condenações chegou bem acima dos três quartos do total dos casos julgados”.

Segundo Cecil Roth foi “um suborno magnificente da Sé arquiepiscopal de Viseu que venceu a oposição do papa” à existência de “uma Inquisição livre e sem obstáculos em Portugal”, que acabaria por culminar, em 1579, no poder de confiscar bens dos judeus, uma das armas mais letais do Santo Oficio, um convite perpétuo à perseguição contra os cristãos-novos.

Como é que um povo que passou pela diáspora, pela Inquisição, pelos guetos e pelo holocausto nazi pode reproduzir nos dias de hoje, os mesmos abusos (ainda que em escalas diferentes) sobre o povo da Palestina, foi a questão (sociológica) que Esther Mucznik, vice-presidente da comunidade israelita em Portugal, se furtou a responder no Colóquio, a pretexto de não falar de política (como se tivesse falado de outra coisa ao referir-se à criação do Estado de Israel e ao defender o sionismo) e apesar da sua qualidade de socióloga. O Holocausto, antes de ser História, foi Política. Se o tempo do historiador é diferente do tempo do sociólogo, como diz F. Braudel, só a unidade das ciências sociais, por ele preconizada, pode levar ao avanço da investigação e impedir o “recalcamento na história” de que também fala Jacques Le Goff, ao comparar o papel actual das massas com o que tinha na Idade Média: “um povo assustado que assiste às fogueiras” e que só se movimenta perigosamente atrás das heresias. Não se pode reflectir sobre as “heresias” no Carnaval de Torres Vedras ou do livro apreendido pela PSP em Braga (como já tinha acontecido, em 2004, com outro livro numa livraria de Viseu) sem se pensar nas consequências do medo e da delação promovida pela Inquisição ( abolida no século XIX !), e do mais recente meio século de bufaria e repressão pidesca, na sociedade portuguesa.

(Carlos Vieira e Castro no Jornal Via Rápida de 26/02/09)

CASAMENTO DE HOMOSSEXUAIS: UMA QUESTÃO DE DIREITOS HUMANOS



Primeiro foi o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) a ameaçar com o apelo ao voto contra os partidos que defendem o casamento entre pessoas do mesmo sexo”. No dia seguinte, a CEP, em comunicado, esclareceu que a Igreja não se move contra qualquer partido com um ideário divergente ou oposto”, mas a ameaça velada ficou a pairar, apesar do presidente do CEP, o arcebispo Jaime Ortiga, ter admitido, há meses, que esta questão dos casamentos gay iria avançar, “com ou sem a oposição da Igreja católica”. Ou melhor, a oposição da hierarquia, já que vários católicos de base, como o Grupo Homossexual Católico Rumos Novos, aprovam esta proposta que José Sócrates integrou na sua moção apresentada ao Congresso do PS (curiosamente há três ou quatro meses o PS votou contra projectos-lei de igual sentido apresentadas no Parlamento pelo Bloco de Esquerda e pelos Verdes).

Já em 2003 o Vaticano “decretava” que “as uniões homossexuais “não estão em condições de assegurar, de modo adequado, a procriação e a sobrevivência da espécie”. É caso para perguntar por que é que o Papa não autoriza o casamento dos padres de modo a contribuir para a procriação e a sobrevivência da espécie? Ou será que tem receio que uma grande percentagem recorra ao casamento gay? E as freiras que só casam com Cristo? E quando dois idosos ou adultos fora da idade fértil se apaixonam e casam não terão direito, querendo, à bênção da Igreja, só porque já não têm hipótese de procriar e contribuir para a sobrevivência da espécie? Que raio de materialismo é este?!

Talvez o Papa se devesse preocupar mais com a quantidade escandalosa de padres e bispos acusados do crime de pedofilia, em vários países do mundo, mas principalmente nos EUA.

Em Viseu, o cónego Vieira, ex-director do Jornal da Beira, propriedade da Diocese, escreveu, sob o mesmo pseudónimo com que há já alguns anos elogiou Salazar: “(...)Trata-se de algo anti-natural, é aberração, pois deles implicitamente está excluída a noção de constituição de um genuíno agregado familiar”. E acaba a apelar à “capacidade de discernimento” do eleitorado.

Mais inteligente, o bispo de Viseu começa por negar intenções discriminatórias para com os homossexuais e admite até “o direito à felicidade de cada um”, mas finca os pés na mesma areia onde enterrou a cabeça, a que chama “valores da sociedade”, para sugerir a substituição da palavra “casamento” por “união de facto” quando aplicada a homossexuais. Na verdade já existe a palavra “matrimónio” para distinguir o “sacramento da Igreja, que valida a união do homem com a mulher” (Dicionário Porto Editora) da união legal ou casamento civil, embora, na prática, se tenham tornado sinónimos. As igrejas não têm que se imiscuir no direito civil e muito menos desrespeitar o direito constitucional à igualdade, sem discriminação baseada na orientação sexual, da mesma forma que o Estado não pode impedir que a Igreja católica discrimine a mulher no sacerdócio. Os “valores” do bispo Ilídio Leandro são os mesmos que o levam a defender a indissolubilidade do casamento, mesmo que, como dizia há tempos o bispo Torgal Ferreira, isso tenha provocado a infelicidade de milhares de católicos, excluídos da “comunhão” por terem decidido divorciar-se e voltar a ser felizes. O ar de tolerância do bispo de Viseu (“a Igreja não coloca em causa a liberdade de consciência”) esfuma-se quando ele apela aos católicos para se interrogarem sobre o sentido do voto”.Esta é que é uma autêntica “campanha negra” (da cor das sotainas)!

Em 1945, durante o processo de Nuremberga que julgou alguns responsáveis nazis, definiu-se como “crime contra a humanidade” o genocídio de grupos de pessoas pelo simples facto de existirem, como os judeus, os ciganos e os homossexuais. Os homens e as mulheres homossexuais continuaram a ser vítimas da violência assassina das ditaduras militares da América latina e dos “esquadrões da morte” das democracias “musculadas” que se seguiram. Como se sabe, a maioria dos ditadores e torcionários eram católicos praticantes, como Pinochet que recebeu João Paulo II de braços abertos.

Em 2007, o bispo de Pamplona colocou no “site” da Igreja de Navarra um documento em que apela ao voto na organização fascista Falange Espanhola e noutros partidos da extrema-direita, todos respeitadores da religião e dos seus “valores”.

Darwin nasceu há 200 anos, mas só em Outubro de 1996 é que o Papa, do alto da sua infalibilidade, reconheceu a Teoria da Evolução. Não obstante, em 2004, a ministra italiana da Educação, do governo neo-fascista do católico Berlusconi, provocou uma revolta pública ao tentar proibir o seu ensino.

Durante milhares de anos quantos milhões de pessoas não terão sofrido com o horror de ir parar ao Inferno ou ao Purgatório, ou com o desgosto de pensarem que os seus filhos, ao morrer sem serem baptizados, iriam pairar no limbo? Até que João Paulo II decidiu, em 2007, que o “limbo”, inventado por Santo Agostinho juntamente com o “pecado original”, não existe, e que o Céu, o Inferno e o Purgatório não são lugares concretos.

“E, contudo, ela move-se!” Nem a Igreja escapa à evolução! É pena é que seja um processo tão lento, tão retardado por dogmas, fundamentalismos e preconceitos que a humanidade no seu devir de progresso vai atirando para o caixote do lixo da História e acabe por provocar, na sua fanática e inglória resistência, tanta exclusão e sofrimento.

Numa coisa estamos todos de acordo: há assuntos mais importantes, como a crise económica e o desemprego a merecer mais a nossa atenção. O problema é que este já devia estar resolvido há muitos anos.


(Carlos Vieira no Jornal Via Rápida de 12/02/09)

ESCOLA SECUNDÁRIA DE EMÍDIO NAVARRO: PROJECTO DE MODERNIZAÇÃO OU DE AMPUTAÇÃO?




Está em curso o Programa de Modernização das Escolas do Ensino Secundário, aprovado pelo Conselho de Ministros em 3.01.2007, cujo planeamento, gestão, desenvolvimento e execução está a cargo da Parque Escolar, EPE, criada pelo D.L. 41/2007 de 14 de Fevereiro. Este programa intervirá num total de 330 escolas, até ao ano de 2015, com um investimento de 940 milhões de euros, assegurado pelo Financiamento Comunitário (354 milhões de euros), pelo PIDDAC, pela banca e por outras comparticipações do Estado.
Os objectivos deste programa passam pela reorganização e qualificação do espaço escolar: bibliotecas/centros de recursos; laboratórios para ciências, informática, desenho e artes; oficinas para cursos profissionais; espaços polivalentes para actividades culturais, sociais e de lazer; espaços de trabalho e de pausa destinados aos docentes; serviços de apoio (bar, livraria, papelaria e reprografia) e ainda a “criação de condições de abertura de sectores específicos da escola para utilização pela comunidade exterior, com particular ênfase nos espaços desportivos e polivalentes.
O programa propõe-se criar condições para garantir, a curto/médio prazo, a auto-suficiência energética, através de energias renováveis e a realização de contratos de manutenção e conservação para cada escola por períodos de 10 anos.
A bondade dos objectivos atrás enunciados não sossegou alguns professores da Escola Secundária de Emídio Navarro que, face à proposta de projecto tornada pública pela Parque Escolar, apresentaram algumas críticas e sugestões. Assim, parece que os arquitectos responsáveis pelo projecto não tiveram em conta a amplitude térmica que caracteriza o clima da nossa cidade ao optarem por grandes superfícies envidraçadas e por telhados em placa, em vez das tradicionais telhas, o que pode provocar gastos suplementares com a climatização. Os professores de Física e Química também fizeram notar a insuficiência e a exiguidade dos laboratórios. Mas são os professores da Área Disciplinar de Educação Física que se mostram mais apreensivos face à ausência de resposta às suas sugestões, quando o início da intervenção na Escola Secundária de Emídio Navarro está prevista para o próximo mês de Março.
Dizem os professores de Educação Física que, a não ser alterado, como receiam, o projecto levará à perda de um dos dois espaços interiores para aulas de ginástica. Dos dois campos de basquetebol exteriores perderá um e dos dois campos de Voleibol exteriores também perderá um. O Polidesportivo descoberto, apenas preparado para Andebol, Futsal e Ténis, será rebaixado, afundando-o para o nível do piso térreo das actuais oficinas e construindo-lhe apenas uma cobertura. Deste facto prevê-se que das diferenças de temperatura advenha a formação de condensação em grande escala e amplitudes térmicas muito grandes, com temperaturas muito baixas em dias de frio e temperaturas muito altas em dias de muito calor, uma vez que não está previsto qualquer tipo de climatização.
Além do mais, com este projecto, a ESEN continuará a ser a única escola sem pavilhão das dez escolas secundárias e EB da cidade: A ES Alves Martins, a ES de Viriato, a EB Infante D. Henrique, o Colégio da Via Sacra e o Colégio da Imaculada Conceição possuem um pavilhão de 40m x 20m; as escolas EB do Viso, EB de Mundão, EB Azeredo Perdigão, e EB Grão Vasco têm pavilhão e uma sala de Ginástica.
Será que a Escola Emídio Navarro está condenada a ser o parente pobre (ou miserável) das escolas públicas e privadas da cidade de Viseu? Durante o Cavaquismo, apesar dos milhões da Comunidade Europeia (canalizados para auto-estradas) construíram-se escolas sem pavilhão (Viriato, Mundão e Viso). Vamos repetir os mesmos erros?
. Fundada em 1898, a antiga Escola de Desenho Industrial de Viseu, mais tarde Escola Industrial e Comercial de Viseu, integra um dos edifícios mais interessantes de Viseu, a Casa do Arco, do século XVIII, junto à Porta dos Cavaleiros. A Escola Secundária de Emídio Navarro faz parte do património histórico da cidade. Por isso, este projecto de “modernização” não só diz respeito à comunidade escolar, como também a todos os viseenses. Temos o dever de estar atentos e solidários com os professores da Escola Secundária de Emídio Navarro.

(no Jornal Via Rápida de 26/02/2009)

6.3.09

PALESTINA ENTRE BOMBAS E POESIA




Tal como aqui tinha anunciado realizou-se no passado dia 1, no Solar dos Peixotos, um debate sobre a Palestina, organizado pelo Bloco de Esquerda, com a presença de Alan Stoleroff, judeu “luso-americano”, como se definiu, professor do ISCTE, membro do Comité de Solidariedade com a Palestina e ainda Shahd Wadi, palestiniana, a residir também no nosso país.
Stoleroff, entre poemas da sua autoria, desmontou as mentiras, mitos e meias-verdades com que os israelitas tentam justificar o ataque bárbaro a Gaza. A começar pelo facto de ter sido Israel a romper a trégua com o Hamas que cumpriu os seus compromissos em 99%. Israel não pôs fim ao criminosos bloqueio a Gaza, como acordado, e só abriu 10% das linhas de abastecimento (todos os dias camiões da ONU entravam com água, comida e fuel para as centrais eléctricas de Gaza). Considerou a ocupação ilegal e absolutamente imoral. “Tendo Israel legitimidade para existir, ou não, não tem o direito de oprimir outro povo”. (Convenção de Genebra). Já são 4 milhões os descendentes dos 700 mil palestinianos expulsos ou fugidos das suas casas (o mito da “terra sem povo”). O genocídio será facto consumado com a iminente expulsão e transferência dos palestinianos de Gaza e Cisjordânia, e dos árabes israelitas (20% dos cidadãos de Israel já sujeitos a “appartheid”), aliadas à expansão de colonatos, defendidas pela ala fascista do Likud (direita) e pela extrema-direita de Lieberman (o seu partido é agora o terceiro maior) que com os ultra-religiosos do Shas poderá determinar o futuro governo. “A ocupação está a destruir a alma dos judeus do mundo inteiro.”
A bela Shahd, que veio para Portugal por amor, como Alan, leu poemas de Mahmud Darwich e contou a história da sua família, expulsa da Palestina, em 1948; como seu pai nasceu numa tenda de refugiados e não pôde regressar à sua terra, e ela só conseguiu chegar a 1 km da cidade de seus avós.
Enquanto a comunidade internacional (EUA e União Europeia) nada faz para obrigar Israel a cumprir as resoluções da ONU e fecha os olhos aos crimes de guerra e violações da Convenção de Genebra, denunciados pela Amnistia Internacional e pela Human Rights Watch, resta-nos a esperança de que talvez um dia a Poesia possa vencer a força bruta das bombas.

(no Jornal Via Rápida de 12/02/09)

CAVA DE VIRIATO: CAEM OS MUROS; SÓ NÃO CAEM AS BARREIRAS PARA OS DEFICIENTES!




Esta foto prova à evidência como os trabalhos de “requalificação” da Cava de Viriato foram feitos com competência. Podiam ter aprendido com os romanos a construir muros de pedra. Acontece que hoje é consensual entre historiadores e arqueólogos que a Cava de Viriato não foi feita pelos romanos, mas sim pelos muçulmanos. E, portanto, a colocação de lajes de granito, porque desnecessárias, dado que a terra se encontrava de tal maneira compactada no alto da muralha, por mais de mil anos de uso, que era como se fosse empedrada, só serviu para desvirtuar um monumento único na Europa. Denunciámos em primeira mão, aqui e em participação ao IGESPAR, esta preocupação e o perigo que representavam os intervalos de 15 cm entre as lajes. Os acidentes que já se verificaram deram-nos, infelizmente, razão, mas a solução apresentada pela Câmara Municipal de Viseu de colocar mais terra e relva entre as lajes não resolve qualquer um dos problemas. Além de que, mesmo que viesse a resultar, continuaria o problema da mobilidade dos deficientes no acesso à Cava uma vez que uma cadeira de rodas só pode subir pela rampa nova junto à Rua do Picadeiro, mas não poderá ultrapassar as escadarias de granito colocadas nas rampas de acesso nas outras extremidades dos vários lados da muralha, onde também já se verificaram acidentes, segundo denúncia do blogue Viseu.Fotos do AJ.

CAVA DE VIRIATO: “PIOR A EMENDA DO QUE O SONETO” ?

Depois da denúncia que aqui fizemos, em primeira mão, há quinze dias atrás, sobre os acidentes com crianças, idosos e adultos que caíram nas lajes de granito que, de acordo com o projecto de "requalificação"(?!)da Cava de Viriato foram colocadas no alto da muralha, com intervalos de 15 cm entre as pedras, o senhor presidente da CMV anunciou que iria resolver o problema contratando, por ajuste directo, a plantação de relva nos intervalos das lajes. Permitimo-nos duvidar da eficácia deste remendo.
A terra e a relva entre os blocos de granito de 15 cm de altura dificilmente terão consistência para impedir acidentes, pelo contrário, apenas servirão para disfarçar os buracos entre as lajes, transformando-os numa verdadeira armadilha. Para além do trabalho que será aparar a relva em toda a extensão da Cava. Note-se que a terra está de tal maneira compactada ao longo de mil anos de uso que se podia ali caminhar mesmo com as maiores chuvas como se se tratasse de um caminho empedrado. De facto, “não havia necessidade!”...
Esta "solução" não resolve o problema gravíssimo do desvirtuamento da Cava de Viriato (opinião que já foi corroborada publicamente pelo arqueólogo Inês Vaz). Monumento que hoje é consensual entre os arqueólogos (ver site do IGESPAR) ser de origem muçulmana, de acordo com as teses dos investigadores da Universidade de Coimbra, Vasco Gil Mantas e Helena Catarino. O problema é que o arquitecto Gonçalo Byrne ao elaborar o projecto de requalificação da Cava partiu do pressuposto, não provado, de que se tratava de uma fortificação romana.
A justificação de que esta intervenção ficará como uma "marca século XXI" não nos parece satisfatória, uma vez que, a admiti-la, não se percebe por que motivo se destruiu o passeio público construído no século XIX, a meio do talude, com um interessante banco de pedra semi-circular junto a um bebedouro, por detrás da estátua de Viriato. Se foi para restituir ao monumento o seu carácter original de fortificação em terra (à semelhança da que existe em Samarrã, no actual Iraque e de que há outros vestígios no Norte de África), o que nos parece fazer sentido, então para quê descaracterizar o alto da muralha?
Por último, queremos deixar claro que estamos de acordo com a beneficiação da Cava de Viriato, tanto mais que andávamos há anos a chamar a atenção para o desleixo a que tinha sido votada. Mas a verdade é que este monumento único na Europa, sempre atraiu turistas e estudiosos a Viseu. O que poderá dissuadir os visitantes de nele passearem e, ao percorrê-lo, poderem verificar a sua verdadeira dimensão (já que a torre de observação e o centro de interpretação, previstos no projecto original, ficam no tinteiro) é precisamente o perigo que constituem os intervalos entre as lajes, com o sem relva.

(no Jornal Via Rápida de 29/01/09)

5.3.09

CRIANÇAS E ADULTOS TÊM CAÍDO NA CAVA DE VIRIATO



O Núcleo de Viseu da Associação OLHO VIVO enviou, em Março do ano passado, uma carta à Direcção Regional de Cultura do Centro dando conta das nossas apreensões face às obras de “Recuperação e Arranjo Paisagístico de parte do Monumento da Cava de Viriato” (ver Golpe de Vista do Jornal Via Rápida de 27.03.2008).
Na resposta, o Director Regional informou-nos, laconicamente, que “os trabalhos em execução constam do projecto apresentado e encontram-se superiormente autorizados e estão incluídos em projecto que foi objecto de apreciação nas áreas de arqueologia e arquitectura paisagista”.
Claro que uma obra da ViseuPolis não podia ser clandestina. Apenas pedimos esclarecimentos para o que nos pareceu serem aspectos intrusivos de uma intervenção que poderá desvirtuar um monumento único na Península, ( colocação de lajes de granito, muito bem aparelhadas, assentes em blocos de cimento, numa fortificação de terra, à semelhança das cidades-acampamentos muçulmanas de que há vestígios no Norte de África e, em melhor grau de conservação, em Samarrã, no actual Iraque) e chamámos a atenção para a contradição aparente entre esta modernização arquitectónico-paisagista” e a evidente preocupação em apagar os vestígios do passeio público construído no século XIX (com acesso pela escadaria atrás do monumento a Viriato), deitando toneladas de terra para cobrir as escadas e caminhos talhados nos taludes para acesso ao alto da muralha, certamente para repor o seu aspecto original.
Na nossa carta chamámos também a atenção da tutela para o perigo que representa os intervalos de 15 cm entre as lajes de granito. Ninguém ligou aos nossos alertas. No entanto, a OLHO VIVO tem conhecimento de vários casos de pessoas (crianças e adultos) que já caíram na Cava de Viriato. Também nos informaram que a TVI já passou uma reportagem dando conta de um desses casos.
Segundo um jornal local, a Câmara Municipal de Viseu teria afirmado que aqueles intervalos entre os blocos de granito se destinavam a impedir a circulação de bicicletas. Justificação ridícula já que todos os dias se vêem lá pessoas a andar de bicicleta. Quem não tem hipótese de circular com aqueles intervalos entre as lajes são os portadores de deficiência, quer se desloquem de muletas ou de cadeira de rodas, e os carrinhos de bebé.
Tão pouco se pode aceitar a desculpa de que as obras ainda não acabaram, porque se do lado da Avenida da Bélgica ainda não foram retirados os tapumes, a verdade é que quem entra pela Rua do Picadeiro ou pelo novo passadiço aéreo não encontra qualquer obstáculo ou indicio de obras.
Os moradores da Rua do Picadeiro também se queixam das luzes colocadas em pilares de granito ao longo da estrada interior da Cava que encandeiam quem circula a pé ou de carro e dificultam as manobras automóveis nalgumas curvas, como a da saída para a Rua do Coval, correndo o risco de enfiar os pneus na valeta, de onde dificilmente tirarão os veículos dada a profundidade exagerada a que abriram a vala. Um dos novos postes de iluminação da Rua do Picadeiro foi colocado exactamente na parte mais apertada da rua; recentemente, uma técnica de Saúde do INEM que ali fora chamada para uma emergência, teve de sair da ambulância para orientar a manobra.

(no Jornal Via Rápida de 15/01/09)

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