15.11.08

SEGURANÇA SOCIAL DE VISEU, COM LOTAÇÃO ESGOTADA, DEIXA SEM ABRIGO A DORMIR NA RUA


Joaquim Esteves Dionísio, de 64 anos, foi cobrador da Rodoviária Nacional (R.N.) em Setúbal até 1995 quando a introdução do “agente único” (cobrança pelo motorista) acabou com a profissão. Depois disso trabalhou na construção civil. Em 1998 veio para Viseu onde morou uns tempos numa casa arrendada, sem recibos, pelo que teve de sair quando o senhorio lhe comunicou necessitar dela para alojar um filho. Desde então tem morado em pensões. Ainda trabalhou dois anos e meio na R.N. em Viseu, no serviço de despachos, a recibos verdes, ganhando à percentagem. Tempos menos maus que duraram pouco. Viu-se obrigado a recorrer a trabalhos temporários e nas “obras”, quase sempre sem contrato. Um empreiteiro que entretanto já emigrou ainda lhe ficou a dever dinheiro. Foi então viver para uma roulotte, nos terrenos que são, ou foram, da CP. Em Abril deste ano foi trabalhar para França. Regressou em Julho. Desde então nunca mais conseguiu arranjar emprego. Sem contrato, nem contacto com o empregador, não conseguiu subsídio de desemprego. Depois de viver um mês alojado na Residencial Lusitano e esgotadas as poucas economias (a indemnização que recebera da R.N. serviu para ajudar as duas filhas que tem no Torrão, Alentejo, e depressa se esfumou), de há três meses para cá tem dormido na rua. Não será propriamente na rua, mas é como se fosse, dado que o local é tão desabrigado como as soleiras das montras das lojas das grandes cidades: trata-se das ruínas de uma bomba de gasolina que existiu há algumas décadas, na Rua de Serpa Pinto, onde hoje está um ecoponto, junto ao Largo do Matadouro. Das bombas, os únicos vestígios são uma retrete que ainda conserva a sanita e um cubículo que devia servir de arrumação (ver foto). É aí que dorme encolhido Joaquim Dionísio, nesse buraco tão exíguo que nem consegue estender-se ao comprido, protegido do frio por um escasso coberto e pelos cartões de embalagem com que tapa parcialmente a entrada.

Em 4 de Setembro último dirigiu-se à Segurança Social de Viseu onde lhe indicaram como requerer o Rendimento Social de Inserção (RSI). Mais tarde voltou a ser contactado, no sentido de se dirigir aos serviços da Segurança Social no Centro Paroquial de S. José, na Av. Emídio Navarro. Aí, em 24 de Outubro, deu conhecimento das condições em que dormia, mas apenas lhe disseram para aguardar o deferimento do RSI que deveria demorar poucas semanas.

Uma vizinha alertou a Associação OLHO VIVO para a situação deste “sem abrigo”, há precisamente oito dias. Acompanhámo-lo, então, à Caritas Paroquial de Santa Maria, na Rua Silva Gaio, onde se encontra instalado um Refeitório Social e um Centro de Acolhimento Temporário (já há tempos tínhamos para ali encaminhado uma mulher vítima de violência doméstica, depois de apresentada queixa na PSP) co-financiado pela Comunidade Europeia e pelo Estado português. Desde então, por solicitação da Segurança Social de Viseu, Joaquim Dionísio tem ali tomado as suas refeições, beneficiando ainda de banho duas vezes por semana, e dos serviços de lavandaria. No entanto continua a dormir na rua, já que aquele Centro de Acolhimento Temporário apenas dispõe de sete quartos, encontrando-se todos ocupados (casos de violência doméstica, abandono de idosos e toxicodependência).

Questionado pela nossa Associação, fomos informados por aqueles serviços de que a Segurança Social de Viseu não dispõe de mais quartos para acudir a esta situação.

Dado o agravamento da crise económica, com o galopante desemprego, é de prever que situações como esta se possam multiplicar. Assim, a Associação OLHO VIVO lamenta que a Segurança Social não disponha de mais meios para responder de forma atempada a casos dramáticos como o de Joaquim Dionísio. Como é possível que os serviços do Estado (que até tem um ministério dito da Solidariedade Social) deixem um ser humano que passou toda a vida a trabalhar, a dormir num local infecto?

(no Jornal VIA RÁPIDA de 13/11/2008)

5.11.08

“VISEU, CIDADE AMIGA DAS CRIANÇAS"?


A Câmara Municipal de Viseu (CMV) mandou colocar nos postes de iluminação das avenidas que dão acesso ao centro da cidade pendões publicitários com intrigantes slogans: “Viseu, cidade jovem”, “Viseu, cidade solidária” e, entre outros que não lembra ao diabo, “Viseu, cidade amiga das crianças”.

Quanto à “cidade jovem”, basta ver que não há em Viseu um parque de skates em condições, nem espaços para poderem praticar, em segurança, BTT ou patins em linha, nem tão pouco ciclo vias nos circuitos escolares.
E como é que uma cidade que se pretende “amiga das crianças” não tem um único parque infantil em condições? Na semana passada duas crianças ficaram feridas ao brincarem no parque infantil do bairro de Marzovelos. A CMV desculpou-se com o projecto de remodelação do equipamento e do pavimento, que já estaria adjudicado, mas a verdade é que já há muito que a junta de freguesia devia ter-se apercebido dos alertas e protestos dos moradores relativamente à falta de vigilância que vinha dando origem a que os equipamentos fossem utilizados por crianças com idades superiores ao recomendado e até por adolescentes a praticar brincadeiras perigosas, como jogar à bola, bem como à sobrelotação (um morador chegou a contar cerca de 40 crianças amontoadas no parque infantil). Claro que a procura deste parque se compreende já que, apesar de todas as deficiências (falta de vigilância, ausência de instalações sanitárias, as poucas árvores plantadas a nascente, sem qualquer sombra sobre os equipamentos, o que, nos dias de maior calor, leva as crianças a só conseguirem suportar brincar ali, a partir das 18 horas), ainda assim conseguia ser o melhor parque da cidade.

Agora que este parque se encontra fechado para obras que alternativa têm as crianças? O parque infantil do Parque Aquilino Ribeiro é tão pobre de equipamentos que só consegue atrair crianças da pré-primária. Qualquer criança de sete ou oito anos já precisa de equipamentos mais dinâmicos, como os baloiços. O mesmo se pode dizer do parque infantil do Fontelo. Já o parque infantil do Bairro Municipal da Quinta da Pomba, encerrado há cerca de dois anos (conforme denunciámos no “Golpe de Vista” de 7.08.08), continua vedado às crianças do bairro, as quais se devem intrigar – pelo menos as que já sabem ler – com o letreiro colocado à entrada: “Este parque não se encontra de acordo com a legislação em vigor”. E porque não? Dois anos não será demasiado tempo para uma criança esperar que a autarquia dê cumprimento à legislação? Quanto ao arremedo de parque infantil instalado junto à represa da azenha, no parque linear do Pavia, continua a ostentar no portão fechado um letreiro justificativo: “Em manutenção”. Que manutenção? Só serviu de cenário para a inauguração do Parque Linear? As crianças dos três bairros vizinhos – o da Balsa, o 1º de Maio e o Municipal (“da cadeia”) não terão direito a um parque infantil decente?

Não é preciso ir ao estrangeiro, basta ir ali a S. Pedro do Sul, para ver parques infantis divertidos, com vigilância e instalações sanitárias. Em Viseu, há poucos dias, o centro comercial Fórum Viseu, em três meses conseguiu licenciar um parque infantil bem concebido que valorizou o passeio relvado á beira do rio, no que seria um bom exemplo de espaço público, não fora o caso de ser privado... Para vergonha da CMV!

(no Jornal VIA RÁPIDA de 30/10/08)

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