25.10.08

ARTE NOVA - um património a preservar

Temos nestas páginas vindo a apontar uma crescente descaracterização da Rua Dr. Luís Ferreira – Rua do Comércio – que se distingue por um conjunto de elementos arquitectónicos estilo Arte Nova, na azulejaria e no ferro forjado, do inicio do século XX (note-se os elementos vegetalistas, linhas ondulantes, volutas, ornamentos florais).
A história da fundação deste núcleo viseense da Associação Olho Vivo passa pelo processo de luta pela preservação dos candeeiros de ferro forjado da Rua Direita, do Largo D. Duarte e outras ruas, assim como dos candeeiros de ferro fundido característicos de estilo Arte Nova da Rua do Comércio, que a Câmara Municipal de Viseu (C.M.V) intentou substituir há oito anos. Depois da nossa denúncia e do abaixo-assinado de comerciantes e moradores que entregámos na C.M.V., esta autarquia teve o topete de por oito anos manter os candeeiros que comprara para substituir os de ferro forjado, encavalitados em cima dos de ferro fundido. Há cerca de cinco meses o executivo municipal, no seu habitual estilo de não dar o braço a torcer, tomou a decisão de “desempatar”, removendo ambos para serem substituídos por uns candeeiros “Estilo Modernaço” – irónico sucedâneo do “Modern Style”: nome por que era conhecido o estilo Arte Nova no principio do século XX.
Um dos edifícios mais significativos da Rua do Comércio, com tantos anos quanto a própria (a caminho do centenário), representativo do estilo Arte Nova, apresenta-se degradado, exposto às intempéries, estando o telhado e as janelas muito danificadas. Quem subir a Rua do Comércio pode verificar o estado de degradação deste belo e imponente prédio gaveto com a Rua Chão do Mestre, mas é da Rua Formosa, junto ao portal do Mercado 2 de Maio, que se tem uma visão mais global dos enormes rombos no telhado que não só já estão a prejudicar o único inquilino que ali resta a morar como ameaçam os comerciantes do rés-do-chão: a Casa Africana e a Casa do Lavrador. Há dois anos um estudo da professora Elsa Ferreira de Figueiredo (Azulejo Arte Nova Em Viseu – Seu Valor Patrimonial) apontava já a necessidade urgente de uma intervenção de restauro. Entretanto a câmara terá contactado com o proprietário e foi realizada uma vistoria por parte dos bombeiros e da protecção civil.
A preservação do património não se compadece com delongas. A Associação OLHO VIVO sugere à CMV a classificação de interesse público ou de interesse municipal do conjunto de todos os edifícios Arte Nova da Rua do Comércio de forma a permitir a elaboração de um Plano de Salvaguarda da Rua do Comércio (à semelhança do que existe para a Ribeira do Porto). Viseu é das cidades que tem menos imóveis classificados. Mesmo muitas igrejas, como a Igreja do Carmo, não estão ainda classificadas.

(no jornal VIA RÁPIDA de 16/10/08)

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