19.11.10

a nata do terrorismo




A Cimeira da NATO, no próximo fim-de-semana, em Lisboa, vai custar ao
país dez milhões de euros. Cinco milhões são para comprar 5 carros
blindados para a PSP. Só 2 é que vão chegar a tempo da cimeira, mas
serão precisos no futuro, diz o ministro Rui Pereira . Para
quê?...Responde Giampaolo Di Paola, chairman do Comité Militar da
NATO, no artigo publicado no DN sobre “O papel futuro da NATO”: “A
longo prazo, as mudanças climáticas podem exacerbar problemas globais
como a pobreza, fome, imigração ilegal e doenças pandémicas”. Eis as
guerras futuras da NATO. Claro que nunca se viu a NATO a distribuir
comida e medicamentos pelos pobres e doentes; mas já se viu o aliado
mais poderoso da NATO, os EUA,  a distribuir napalm a ditaduras como a
de Salazar  para queimar os povos das colónias em luta pela sua
libertação, bem como a distribuir, por via aérea, bombas de fósforo
branco e outras armas químicas proíbidas, sobre homens, mulheres e
crianças habitantes de Fallujah, mentindo ao mundo sobre as armas de
Saddam,  apenas para saquear o petróleo do Iraque.

No próximo dia 22, dois dias depois da cimeira, faz precisamente vinte
anos que o Parlamento Europeu aprovou uma resolução “protestando
vigorosamente contra o facto de certos meios militares da NATO se
terem arrogado o direito de levar à instalação de uma infra-estrutura
clandestina de informação e de acção na Europa (…) e pedindo aos
governos dos Estados membros o desmantelamento de todas as estruturas
clandestinas militares e paramilitares”, recordando que “nalguns
Estados membros, serviços secretos militares se viram envolvidos em
graves fenómenos de terrorismo ou de banditismo, como provaram
diversas investigações judiciais”. (DN, 23/11/1990).
Este escândalo que abalou a Europa há cerca de vinte anos é hoje do
domínio público, mas durante quarenta anos os altos comandos da NATO
na Europa (SHAPE), a CIA, o MI6 (serviços secretos britânicos),
organizaram atentados terroristas recorrendo a ex-nazis  e a grupos de
extrema-direita, para incriminar comunistas e anarquistas. A própria
viúva de Aldo Moro, durante o julgamento das Brigadas Vermelhas,
acusadas do assassinato do líder do Partido da Democracia Cristã
(cinco vezes primeiro-ministro) mentor do “Compromisso Histórico” com
o PCI (que em 1972 tinha 27% dos votos), sugeriu que procurassem os
verdadeiros assassinos no seio da CIA e dos maçons. Referia-se à loja
maçónica P2, organização neofascista chefiada por Lício Gelli,
ex-membro dos Camisas Negras, de Mussolini, que haveria de aparecer
ligada ao Vaticano no escândalo da falência fraudulenta do Banco
Ambrosiano, e seria acusado pelo atentado bombista na Gare de Bolonha,
em Agosto de 1980, que matou 80 pessoas e feriu mais de 150 (na
altura, a polícia acusou um anarquista pelo massacre de Bolonha, que
acabaria defenestrado após um interrogatório).
O escândalo rebentou quando um juiz italiano que investigava
atentados terroristas na década de setenta, descobriu, em Outubro de
1990, em documentos dos serviços secretos, indícios de um exército
paralelo a operar no país. Convocados pelo Senado, o primeiro-ministro
Giulio Andreotti e o presidente Francisco Cossiga confirmaram a
existência, desde os anos cinquenta, de uma organização clandestina de
guerrilha anti-comunista para impedir a ascensão eleitoral do PCI.
O ex-director da CIA, William Colby, confirmou as operações
clandestinas “Stay Behind”, desde 1950/51, em todos os países da
Europa , incluindo a Turquia e não membros da NATO, como a Espanha
(que só aderiu em 1982), a Áustria, a Suécia, a Suiça e a Finlândia,
alegadamente para impedir uma eventual invasão soviética: “ Os
americanos deviam ter condições para accionar bandos bem organizados e
armados de civis e militares”. Foi o próprio Secretário-Geral da NATO,
Manfred Woerner, quem confirmou, em Novembro de 1990, de passagem por
Lisboa, a existência da “Operação Gládio” em Itália. Para além do
massacre de Bolonha, a NATO é responsável pelos atentados no Banco de
Agricultura de Milão, em 1969, onde uma bomba matou 16 pessoas e feriu
88; pelo atentado na vila de Peteano que matou 3 carabinieri e serviu
para perseguir as Brigadas Vermelhas (só dez anos mais tarde o juiz
Casson provou ter sido cometido pelos neo-fascistas da Ordine Nuovo,
protegidos pelos serviços secretos militares, integrados na
“estratégia de tensão” que usava “falsas bandeiras”, para comprometer
forças de esquerda );  pelo massacre da Piazza Fontana,  Milão, em
1969, que provocou 16 mortos, para além de muitos outros assassinatos
e golpes de Estado.
Em 1964, a denúncia de dois jornalistas fez abortar um golpe fascista
com o nome de código “Plano Solo”, planeado pelo general De Lorenzo,
comandante dos carabinieri que também controlava os serviços secretos
e a “Operação Gládio”,  que levaria “só” 20 mil carabinieri a
sequestrar e fazer desaparecer 731 dirigentes e activistas dos
partidos comunista e socialista, de outros partidos de esquerda,
sindicalistas, jornalistas, escritores e militares que não aderissem
ao golpe que seriam levados para um campo de concentração na Sardenha.
Três anos mais tarde um golpe semelhante foi bem sucedido na Grécia,
impondo a ditadura dos coronéis.
Depois da reunificação alemã, democrata-cistãos e social-democratas
acusaram-se mutuamente de serem coniventes com a “estratégia de
tensão” da NATO que, em 1981, levou um jovem neonazi a matar 13
pessoas e ferir 200 num atentado durante a festa da cerveja,
“Oktoberfest”, em Munique.  Um relatório de 1990 do Parlamento belga,
concluiu que os  autores de atentados terroristas na Bélgica, nos anos
80, como o ocorrido num supermercado onde quatro homens dispararam
sobre homens, mulheres e crianças (oito mortos e oito feridos), eram
militantes da extrema-direita e “tinham impunidade garantida”. Mas em
ambos os países as culpas começaram por ser atribuídas à esquerda, o
que favoreceu o poder da direita e do “bloco central”.
Em Portugal, esta organização clandestina da NATO camuflou-se com a
agência de informações Aginterpress, ligada à PIDE, mas mais dedicada
a eliminar opositores ao regime ligados aos movimentos de libertação
das colónias. Há indícios de que tenha estado por detrás dos
assassinatos de Amílcar Cabral, de Eduardo Mondlane e de Humberto
Delgado.

Nem mais um cêntimo para suportar as guerras da NATO.


 
Carlos Vieira

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