4.2.11

o fecho da casa da boneca: mais um prego no caixão do centro histórico.



 




















No cruzamento da Praça D. Duarte com a Rua Grão Vasco, a Casa da Boneca era mais do que um estabelecimento comercial e ficou na memória de muitos viseenses que ali iam escolher os brinquedos para oferecer pelo Natal ou no dia de aniversário dos filhos, e sobretudo na memória das crianças que enchiam a loja para receber das mãos dos proprietários, João Nascimento e a esposa  Maria Odete, bonecas e peluches que ofereciam, no Dia da Criança, aos alunos das escolas do primeiro ciclo.

Fundada há mais de 130 anos como loja de tecidos, a Casa da Boneca, assim chamada por ter uma boneca na montra, só há 28 anos é que passou a ser gerida por João Nascimento e Maria Odete Nascimento. Também a Feira de S. Mateus ficou marcada pela barraca da Casa da Boneca, onde os brinquedos faziam a alegria da pequenada. O sucesso durou até a chegada a Viseu do primeiro hipermercado de Belmiro de Azevedo que abriu três meses antes do Natal, quando a Casa da Boneca já tinha feito as encomendas para aquele época. Foi o primeiro revés. Depois a Câmara de Fernando Ruas deixou que as grandes superfícies cercassem a cidade por todos os lados, ao mesmo tempo que permitia que os empreiteiros construíssem novas urbanizações de forma pouco sustentada, descurando a reabilitação do edificado e levando ao despovoamento do centro histórico, que ficou com um terço das habitações em ruínas ou degradadas. O despovoamento do centro da cidade leva ao aumento da insegurança nas ruas e à agonia do comércio tradicional.

Hoje, o comércio de Viseu, no centro histórico, como nas restantes ruas do centro da cidade,  vive a maior crise de que há memória. As falências sucedem-se a um ritmo vertiginoso. Nalgumas artérias,  como na Avenida Capital Silva Pereira ou na Rua Direita, são os imigrantes chineses e indianos que ainda vão evitando a proliferação de lojas “entaipadas”.
Não foi só a concorrência dos hipermercados e de lojas chinesas que levaram ao encerramento da Casa da Boneca: João Nascimento já conta 83 anos e Maria Odete também já passa dos setenta. Mas, se não fosse a crise do comércio tradicional ainda se entreteriam ali por mais uns tempos.

Qualquer dia,  o comércio do centro histórico de Viseu fica reduzido a bares e a funerárias, o que atesta bem a morte do centro histórico.  Até já as farmácias estão a fugir, atrás das pessoas. A Farmácia Pinto fechou no Largo Pintor Gata, para abrir no Palácio de Gelo, o que - pasme-se! -  mereceu a satisfação do presidente da Câmara pelo alívio que isso representaria para o trânsito no centro histórico. Dentro de dias será a vez da Farmácia Medicinal fechar as portas na Rua Direita, quando estiverem concluídas as obras da nova loja no Bairro de Marzovelos. 

Depois dos deputados do PSD, do PS e do CDS terem inviabilizado uma moção do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal de Viseu, no sentido de impedir a abertura das grandes superfícies ao domingo à tarde e feriados, tendo Fernando Ruas dito, na altura, que a sua decisão dependeria da resolução da Câmara de Aveiro, resta agora, aos comerciantes de Viseu, esperar que a petição que milhares de comerciantes de Aveiro vão apresentar, através da sua associação distrital, na autarquia aveirense, possa levar esta a não licenciar o alargamento dos horários, única forma de o presidente da Câmara de Viseu decidir defender os pequenos comerciantes da sua cidade.


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