Marcelo Rebelo de Sousa tem razão, anda para aí um cheiro a PREC no ar. Um cheiro quente que parece trazido pelo vento Suão que vem do Norte de África. Lá, tudo parecia imutável e os ditadores sentiam-se seguros com o apoio das “democracias” ocidentais, em troca do petróleo e do policiamento do Mediterrâneo contra os migrantes africanos. Aqui, pelo nosso rectângulo, também tudo parecia controlado pelas elites corruptas repartidas pelos partidos do “arco do poder”. O “rotativismo” parecia “o fim da História”. Até que alguém gritou “O Rei vai nu!” e toda a gente viu que a nossa democracia não é mais do que um regime de partido único com duas cabeças. O grito que tanto incomodou os ouvidos sensíveis dos serventuários do regime foi a moção de censura do Bloco de Esquerda. O PSD apressou-se a garantir que estaria do lado do governo do PS. Um dos seus militantes mais destacados, Pacheco Pereira, defendeu que Passos Coelho nunca poderá derrubar Sócrates, dado que está a governar juntamente com ele.
Surgiu então, um grito ainda mais amplificado: o do movimento da Geração à Rasca que agendou manifestações no próximo Sábado, dia 12 de Março, em Lisboa, Porto e Viseu. A onda tem vindo a crescer de tal maneira nas redes sociais, que a extrema-direita tentou surfá-la, procurando lançar a confusão e direccionando o protesto contra toda a classe política e todos os partidos, o que obrigou os signatários do Manifesto da Geração à Rasca a fazer o seguinte esclarecimento:
“Reafirmamos a total independência do protesto face a qualquer estrutura ou movimento de cariz partidário, político ou ideológico. Este é um protesto: Apartidário, aberto a todos os partidos e a quem não tem preferência partidária; Laico, aberto a todas as religiões e a quem não tem religião; e Pacífico! Nunca foi enviada qualquer lista de reivindicações. O manifesto é o único documento associado ao protesto”. E é o Manifesto da Geração à Rasca que nos diz quem é que se sente identificado com este protesto: “Nós, desempregados, “quinhentoseuristas” e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal.
Nós, que até agora compactuámos com esta condição, estamos aqui, hoje, para dar o nosso contributo no sentido de desencadear uma mudança qualitativa do país”.
Se a canção dos Deolinda, “Parva que sou”, incomodou muita gente (até Mariano Gago a acusou de fazer a apologia do abandono escolar), a vitória da canção “A luta é alegria” de Gel e Falâncio, incomodou muito mais. Mas o povo que votou neste hino do descontentamento nacional não foi só a geração desemprecariada, foram os pais que viram cortados os salários, os abonos de família, as reformas sociais, o poder de compra e a qualidade de vida. Todos os que preferem a alegria e o inconformismo à contrafacção ignorante e descaracterizadora de uma Europa triste de canções sem alma, afinadas pelos mercados.
Na passada segunda-feira, José Sócrates veio a Viseu apresentar a sua moção aos militantes do PS, quando um grupo de jovens da “Geração à Rasca” entrou na sala e pediu para falar. Foram expulsos e agredidos, enquanto Sócrates dizia para as câmaras de TV que estavam convidados para jantar e “É Carnaval ninguém leva a mal”. Nós, todas as gerações à rasca de Portugal, levamos a mal este “baile de Carnaval” em que PS e PSD, mascarados de “governo” e “oposição”, dançam agarradinhos, calcando toda a gente, e vamos demonstrá-lo no dia 12.
Carlos Vieira