12.4.10

“WELCOME” (BEM-VINDOS) AOS DRAMAS DA IMIGRAÇÃO CLANDESTINA


O Cine Clube de Viseu dedica o seu primeiro ciclo de cinema de 1910, Ano Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social, precisamente a este tema, numa parceria com a Rede Europeia Anti-pobreza. Quem perdeu as quatro primeiras sessões ainda está a tempo de ver “A Nova vida do Senhor O’Horton”, de Bent Hamer (2 de Fevereiro, 21h45m) e “Ruas da Amargura”, documentário de Rui Simões (9 de Fevereiro, 21h30m, com a presença do realizador).

Para a sessão de 12 de Janeiro, o CCV convidou Andreia Maximino, do Centro Local de Apoio à Integração de Imigrantes, e Carlos Vieira, do Núcleo de Viseu da Associação Olho Vivo, para comentarem o filme “Welcome”, de Philippe Lioret.

“Welcome” conta a história de um jovem de 17 anos, curdo, que percorre 4 mil quilómetros, desde o Iraque, para chegar ao Reino Unido onde sonha ser jogador de futebol e onde o espera a sua amada Mina. Ao chegar a Calais, Bilal engrossa o contingente de centenas de imigrantes “ilegais” que, de dia, se escondem num bosque nos arredores da cidade portuária para à noite tentarem a sorte, escondendo-se no meio da carga dos camiões TIR, a troco de dinheiro pago aos camionistas. Mas a polícia francesa, equipada com sensores que enfia por debaixo das lonas dos camiões, detecta a respiração dos clandestinos. Estes enfiam sacos plásticos na cabeça para não serem detectados, mas Bilal, o curdo, tinha sido torturado pela polícia turca com um saco plástico enfiado na cabeça e, sentindo-se a asfixiar, fez com que todos os que o acompanhavam fossem enviados para um centro de detenção de imigrantes. Então decide atravessar a nado o Canal da Mancha. Para isso, vai treinar de forma obstinada, conseguindo a ajuda de um professor de natação, que, denunciado por um vizinho xenófobo, acaba por ser perseguido pela polícia por cumplicidade com a imigração clandestina, crime punível com prisão, na França de Sarkozy. Mina espera por Bilal, desesperada com o casamento que o pai lhe quer impor com um primo herdeiro de uma cadeia de restaurantes turcos, em Inglaterra. Não vos contamos mais deste comovente “Romeu e Julieta” dos tempos modernos, porque o filme, distinguido pelo júri do Festival de Berlim, pode ser visto ainda na ACERT, em Tondela, a 17 de Fevereiro.

Em 21 e 22 de Outubro de 2005, o Teatro da Garagem, apresentou no Teatro Viriato, em estreia absoluta, a peça “Ácido” , de Carlos J. Pessoa, “teatro documental” baseado no caso de 58 chineses encontrados mortos por sufocação no interior de camião frigorífico, no porto de Dover, após terem atravessado o Canal da Mancha escondidos atrás de caixas de tomates.

O ácido xenófobo e racista que corrói a “Europa Fortaleza” também foi retratado no documentário “Bab Sebta” (a Porta de Ceuta, em árabe), de Frederico Lobo e Pedro Pinho (este último é natural de S. Pedro do Sul) que o Cine Clube de Viseu exibiu em 21.10.2008, inspirado na morte de 14 africanos em Ceuta e Melilla, quando tentavam passar a dupla barreira de arame farpado (uma com 3 e outra com 5 metros de altura, ladeando um corredor patrulhado pela Guardia Civil), na fronteira daqueles enclaves espanhóis com Marrocos, denunciadas pela Amnistia Internacional e Médicos Sem Fronteiras, em Setembro de 2005, bem como do abandono, poucos dias depois, por parte do exército marroquino, de centenas de imigrantes subsaarianos, sem comida e sem água no meio do deserto, junto à fronteira com a Argélia.

O Mediterrâneo, que sempre foi uma ponte a unir-nos a outros povos que ajudaram a moldar a nossa cultura e a nossa genética, é agora um imenso cemitério de imigrantes africanos em busca do “El Dorado” europeu.

Sérgio Tréfaut no seu documentário “Lisboetas”, que ganhou o Prémio de Melhor Filme Português no Indie Lisboa, em 2004, mostra-nos a nova realidade multicultural da capital que, a escalas menores, se poderia estender a outros locais do país.

No próximo Sábado, dia 30, pelas 21h30m, a MultiCulti – Culturas do Mediterrâneo, o Campo Arqueológico de Mértola e a ACERT – Associação Cultural e Recreativa de Tondela, parceiros da Rede Portuguesa da Fundação Euro-Mediterrânica Anna Lindh, promovem um encontro “Novas Culturas, Novos Futuros, no espaço ACERT, onde será exibido o documentário de Luísa Homem, “Retratos: Portugal e os Portugueses vistos pelos Imigrantes” que antecederá o debate com a participação de Cláudio Torres, do Campo Arqueológico de Mértola, Nádia Sales Grade, da Terratreme, produtora do filme, e Carlos Vieira, do Núcleo de Viseu da Associação Olho Vivo. Apareçam por lá. A entrada é livre.

Contacto:

olhovivo.viseu@gmail.com