22.9.09

BAIRRO MUNICIPAL: UM ALVO A ABATER!




O Bairro Municipal de Viseu, também conhecido por Bairro da Cadeia, tem mais de 60 anos, mas já há muitas décadas que os moradores ouvem dizer que o “é para ir abaixo”. Mas foi a partir de 2000 ou 2001 que os moradores tiveram a certeza, quando a Câmara Municipal de Viseu anunciou um projecto de demolição total do bairro para a construção de edifícios de habitação social de 3 a 4 pisos e terreno sobrante transformado em lotes para venda. Fernando Rua disse, na ocasião, que era um desperdício haver num local nobre da cidade casas só com rés-do-chão, com jardim à frente e quintal atrás. Claro que os pobres não podem esperar ter a mesma qualidade de vida dos proprietários das vivendas da Av. 25 de Abril.


Em 28.09.2001 constitui-se a Associação de Moradores do Bairro Municipal que desenvolveu esforços para impedir a demolição, argumentando com a importância histórica, cultural e social de um bairro com identidade própria de um bairro para pobres dos anos 40, defendendo a sua reabilitação.

O arqueólogo Jorge Adolfo, em 2006, na qualidade de deputado municipal, defendeu junto da CMV a classificação do Bairro como centro histórico, dada a arquitectura do Estado Novo, preservando essa memória da história da cidade. Fernando Ruas não se opôs à ideia de imediato, mas a verdade é que decidiu prosseguir com a demolição, anunciando que deixaria apenas umas quantas casas para memória histórica. Ora, o interesse arquitectónico é do conjunto do bairro e não das casas isoladamente.

Recentemente a Habisolvis, empresa municipal de habitação, levou a efeito obras de reabilitação que passaram apenas por uma pintura nas fachadas das casas e por alcatroaram a vermelho os passeios, numa obra tão à pressa (eleições à porta!) que até as árvores ficaram alcatroadas de vermelho. É o que os moradores chamam de “lavar a cara” ou “política de fachada”.

Na semana passada uma moradora foi vítima de uma acção de despejo por parte da Habisolvis, por acumular lixo em sua casa. No entanto, os vizinhos garantem que a Habisolvis quando lhe entregou a casa também lá deixou muito lixo, inclusivamente, restos de um galinheiro e de um pombal que ali deixara o inquilino anterior, com chapas podres e tábuas partidas. A senhora ainda tem a desculpa de negociar em papeis e ferro velho para sobreviver com a magra reforma, agora a Habisolvis não tem desculpa. Os seus responsáveis é que mereciam uma acção de despejo!

A Câmara tem pressionado os moradores com a demolição, até mandando destelhar casas desocupadas, o que aumenta a angústia das pessoas que hesitam fazer pequenos melhoramentos. Esta queixa apresentou a uma moradora, Maria dos Prazeres, a Fernando Ruas ao pedir-lhe para reparar o telhado, tendo o autarca prometido que substituiria caibros e telhas. Para surpresa desta senhora que já mora no bairro há 53 anos, Fernando Ruas disse-lhe que poderia colocar mosaicos “que ainda goza e torna a gozar da casa”. Então para quê as pressões psicológicas sobre os moradores, alimentando a incerteza sobre a data de demolição do bairro?

Há até moradores que se assustaram quando viram uma rotunda pintada no Largo à entrada do Bairro, como se fosse um alvo (ver foto) receando que a demolição fosse feita de surpresa, por via aérea, com algum bombardeiro.


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