2.4.09

PATRIMÓNIO EM RUÍNAS



No passado dia 15, por volta das 23 horas, o telhado da Casa das Bocas abateu com um violento estrondo, pregando um susto aos moradores da Rua João Mendes, mais conhecida como Rua das Bocas. A origem da alcunha da rua está nas gárgulas que encimam a fachada do solar, donde sobressaem logo abaixo do beiral.

A. de Lucena e Vale no seu livro “Viseu Monumental e Artístico”, editado pela Câmara Municipal de Viseu, em 1949, ilustrado com fotografias de Germano, situa este solar na transição do século XVII para o XVIII e descreve-o assim:

“Andar corrido sobre o vão das lojas, cuja frente rasgam cinco lumieiras de granito em forma de caderna, janelas de cornija descansando em pequenas mísulas que lhes servem inferiormente de remate, portais elegantes de ornamentais volutas, terraço de balaústres sob a ramagem de frondosas árvores, tudo nesta casa lhe imprime carácter e a reveste de particular interesse. O maior, porém, está no friso de gárgulas de acentuada feição românica que orna o alto da frontaria, sob o beiral franco do telhado”. “Segundo gerais suposições, embora sem nenhum documento que as comprove, tais “bocas” devem ter pertencido à Sé e dela terem sido desviadas quando da substituição da abside românica pela actual capela-mor”

“Ignora-se a quem pertenceu na sua origem; de há muito é objecto de alienações sucessivas”.

O solar terá pertencido à família Lemos e Sousa, mas há cerca de uma década que está devoluto. Já quanto às gárgulas terem pertencido à Sé não nos parece provável, nem a nós nem a alguns especialistas em História de Arte contactados pela OLHO VIVO, que estão convencidos que sempre devem ter pertencido ao edifício já que denotam uma minúcia no lavrado mais próprio do Barroco.

A autarquia informou a comunicação social que a Sociedade de Reabilitação Urbana Viseu Novo e os bombeiros municipais já tinham efectuado uma vistoria ao edifício tendo concluído que este se encontrava em risco de ruína. O comandante dos bombeiros municipais afirmou ao Jornal do Centro que a Casa das Bocas ficou com pouca sustentação pelo que “necessita de uma intervenção rápida”. Américo Nunes, vice-presidente da Câmara Municipal de Viseu (CMV), referiu ao mesmo jornal que, após a vistoria efectuada dias antes da derrocada, a CMV já notificou o proprietário. A autarquia também já notificou o proprietário da casa no Largo Major Monteiro Leite cujo telhado abateu atirando com as paredes dos pisos superiores em tabique para o meio da rua, não matando ninguém por acaso, mas já lá vão quase três anos e parece que o proprietário faz orelhas moucas.

A Casa das Bocas é um dos edifícios mais emblemáticos da arquitectura civil da Área Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística, mas a SRU vem com décadas de atraso e não consegue acompanhar a velocidade de degradação do património edificado da nossa cidade, que continua a cair-nos na cabeça.

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