9.6.09

MAIS UM ACIDENTE NA CAVA DE VIRIATO




Luiz Carlos Araújo foi a última vítima das obras de "recuperação e arranjo paisagístico" da Cava de Viriato. Este morador da Póvoa de Abraveses passa muitas vezes pela Cava, mas, no passado dia 13, foi atraiçoado pelas armadilhas que constituem os intervalos entre as lajes de granito e o passo irregular dos degraus das escadarias de acesso ao alto dos taludes. Meteu o pé num dos intervalos, caiu e foi parar ao Hospital de Viseu, onde levou 8 pontos para suturar a ferida incisa no sobrolho (ver foto). Pelo caminho um dos enfermeiros do INEM contou-lhe que a sua própria mãe também já lá havia caído.

Luiz Carlos partiu a armação dos óculos e uma lente, no valor de cerca de 900 euros, e ainda pagou 11,15 euros de taxa moderadora e exame radiológico no Hospital de Viseu. Quem lhe paga o prejuízo?
A Câmara Municipal de Viseu ou a Sociedade Viseu Polis? ...

Lembramos que o Núcleo de Viseu da Associação OLHO VIVO, mal as lajes começaram a ser colocadas, escreveu, em Março do ano passado, para a Direcção Regional de Cultura do Centro que tutela o IGESPAR, expondo o que se nos afigurava como um desvirtuamento do monumento (opinião corroborada mais tarde pelo arqueólogo João Luís Inês Vaz), uma vez que sendo uma fortificação muçulmana, como é hoje consensual entre os investigadores, seria construída exclusivamente em terra.

Além disso, a terra batida ao longo de um milhar de anos dispensava qualquer lajeamento, e constitui ainda um perigo público dado os intervalos de 15 cm entre as lajes de granito que já têm provocado outros acidentes, conforme já denunciámos oportunamente.

Chamamos ainda a atenção para o facto de esta "recuperação e arranjo paisagístico" da Cava - monumento único na Europa (só existe um semelhante em Samarra no actual Iraque) não fazer jus às preocupações demonstradas pela Câmara Municipal relativamente à mobilidade dos cidadãos cegos ou amblíopes e portadores de outras limitações, como utentes de cadeiras de rodas ou carrinhos de bebé, uma vez que, para além dos intervalos de 15 cm entre as lajes, também as escadarias em granito de acesso aos diferentes braços da Cava criam barreiras à sua circulação.

Em Janeiro deste ano, depois de termos denunciado alguns casos de quedas na Cava, a Câmara Municipal anunciou que resolveria o problema deitando terra e relva nos intervalos das lajes. Meio ano depois ainda não se viu nada. Na semana passada, confrontado pelo JN com a denúncia que fizemos do acidente de Luiz Araújo, o vice-presidente Américo Nunes disse que no preciso dia do acidente tinham começado as obras de preenchimento dos intervalos com terra. Na realidade, a empresa contratada apenas andou na sexta-feira a cortar a erva que crescia desmesuradamente entre as lajes, para que não parecesse tão mal aos frequentadores das manhãs desportivas, agora transferidas para a Cava.

Porque é que a CMV não reconhece o erro (conforme reconheceu com o Mercado 2 de Maio, embora tardiamente) e corrige de vez a asneira do projecto Viseu Polis para a Cava, mandando arrancar as inúteis e malfadadas lajes?

Se calhar com aquelas pedras, ou com o dinheiro que custaram, tinha-se construído o Centro de Investigação/ Núcleo Interpretativo e a Torre de Observação, equipamentos previstos no Plano original de requalificação da Cava, fundamentais para Viseu tirar o máximo proveito deste monumento único na Europa, integrando-se nos circuitos internacionais de turismo cultural.

Contacto:

olhovivo.viseu@gmail.com