Foi este o tema de um debate que a Rádio VFM realizou no seu auditório, em Vouzela, no passado dia 28 de Abril, com Ângela Guimarães, da Associação ARCA, Rui d’Espiney, do Instituto de Ciências Educativas, Luís Costa, da Binaural – Associação Cultural de Nodar, Joaquim Mendes, do Grupo de Cantares e Cavaquinhos à Beira, Mário Almeida, do Grupo Cénico de S. Pedro do Sul e Carlos Vieira, do Núcleo de Viseu da Associação Olho Vivo.
Foi moderador do debate Arsénio Saraiva Martins, da VFM, que formulou algumas perguntas tão pertinentes quanto provocatórias, acerca da qualidade da nossa democracia representativa (alguns dos presentes assumiram-se como autarcas, de diferentes partidos, a par da actividade associativa) e do papel das associações para a requalificação da democracia participativa.
O comentário final, com as conclusões do debate, coube a Maria do Carmo Bica, da ADRL – Associação de Desenvolvimento Rural de Lafões, e directora da Gazeta da Beira.
A diversidade do movimento associativo ficou espelhada nas intervenções. Joaquim Mendes fez uma resenha histórica do associativismo em Portugal (que conta hoje com 80 mil associações) destacando as formas como o poder, nomeadamente o de Salazar, se aproveitou das suas potencialidades mobilizadoras criando grémios da lavoura, casas do povo e casas dos pescadores, nos anos 60 e 70, e lamentou a fraca participação da juventude actual. Mário Almeida, pelo contrário, deu testemunho da apetência da juventude para colaborar em projectos culturais como o da sua companhia de teatro amador e Ângela Guimarães realçou a necessidade de mudar os valores da nossa sociedade, marcada pelo individualismo, a começar na escola e na família. Luís Costa alertou para o risco de desvirtuamento das associações ao se submeterem aos poderes políticos, contrapondo a necessidade de criar redes globais, aproveitando o potencial de transformação e oportunidades criadas pela crise. Rui d’Espiney reforçou a ideia de mudança qualitativa no movimento associativo, exemplificando com a crescente solidariedade entre associações assoladas pela crise, como prova a crescente adesão ao Congresso do Associativismo e da Democracia Participativa. Carlos Vieira falou da importância da economia social (associações e cooperativas) para mudar o paradigma do desenvolvimento, de forma a criar sociedades mais igualitárias e mais solidárias, de cidadãos livres em vez de súbditos esmagados pelo trabalho (ou pela falta dele), sem tempo para pensar, para viver e para criar.