6.3.09

CAVA DE VIRIATO: “PIOR A EMENDA DO QUE O SONETO” ?

Depois da denúncia que aqui fizemos, em primeira mão, há quinze dias atrás, sobre os acidentes com crianças, idosos e adultos que caíram nas lajes de granito que, de acordo com o projecto de "requalificação"(?!)da Cava de Viriato foram colocadas no alto da muralha, com intervalos de 15 cm entre as pedras, o senhor presidente da CMV anunciou que iria resolver o problema contratando, por ajuste directo, a plantação de relva nos intervalos das lajes. Permitimo-nos duvidar da eficácia deste remendo.
A terra e a relva entre os blocos de granito de 15 cm de altura dificilmente terão consistência para impedir acidentes, pelo contrário, apenas servirão para disfarçar os buracos entre as lajes, transformando-os numa verdadeira armadilha. Para além do trabalho que será aparar a relva em toda a extensão da Cava. Note-se que a terra está de tal maneira compactada ao longo de mil anos de uso que se podia ali caminhar mesmo com as maiores chuvas como se se tratasse de um caminho empedrado. De facto, “não havia necessidade!”...
Esta "solução" não resolve o problema gravíssimo do desvirtuamento da Cava de Viriato (opinião que já foi corroborada publicamente pelo arqueólogo Inês Vaz). Monumento que hoje é consensual entre os arqueólogos (ver site do IGESPAR) ser de origem muçulmana, de acordo com as teses dos investigadores da Universidade de Coimbra, Vasco Gil Mantas e Helena Catarino. O problema é que o arquitecto Gonçalo Byrne ao elaborar o projecto de requalificação da Cava partiu do pressuposto, não provado, de que se tratava de uma fortificação romana.
A justificação de que esta intervenção ficará como uma "marca século XXI" não nos parece satisfatória, uma vez que, a admiti-la, não se percebe por que motivo se destruiu o passeio público construído no século XIX, a meio do talude, com um interessante banco de pedra semi-circular junto a um bebedouro, por detrás da estátua de Viriato. Se foi para restituir ao monumento o seu carácter original de fortificação em terra (à semelhança da que existe em Samarrã, no actual Iraque e de que há outros vestígios no Norte de África), o que nos parece fazer sentido, então para quê descaracterizar o alto da muralha?
Por último, queremos deixar claro que estamos de acordo com a beneficiação da Cava de Viriato, tanto mais que andávamos há anos a chamar a atenção para o desleixo a que tinha sido votada. Mas a verdade é que este monumento único na Europa, sempre atraiu turistas e estudiosos a Viseu. O que poderá dissuadir os visitantes de nele passearem e, ao percorrê-lo, poderem verificar a sua verdadeira dimensão (já que a torre de observação e o centro de interpretação, previstos no projecto original, ficam no tinteiro) é precisamente o perigo que constituem os intervalos entre as lajes, com o sem relva.

(no Jornal Via Rápida de 29/01/09)

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